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Dockerfile - Melhores Práticas

Hoje iremos passar por uma série de dicas para melhorar nosso conhecimento na etapa de build da imagem. Já entendemos como funciona o Dockerfile, agora o ideal é que estas imagens sejam criadas utilizando as melhores práticas.

Provavelmente não irei cobrir todas as melhores práticas para a criação da nossa imagem, uma vez que a cada dia que passa novas técnicas são criadas e as atuais são melhoradas, mas quero que você saia daqui hoje sabendo mais do que ontem e menos que amanhã, então vamos lá!

Relembrando o que é o Dockerfile

O Docker constrói a imagem automaticamente lendo as instruções de um Dockerfile, que é um documento de texto que contém todos os comandos necessários para a criação de uma determinada imagem.

Caso você não tenha acompanhado os outros posts sobre Docker, sugiro que veja a TAG: Docker no blog e principalmente o post Docker 101 pois iremos utilizar a máquina criada no post para criação das imagens.

Recomendações gerais

Quando criamos uma imagem, através do comando docker image build , a imagem definida pelo Dockerfile deve gerar containers que são tão efêmeros quanto possível, isso quer dizer que o container deve poder ser parado e/ou destruido a qualquer momento, e reconstruido ou substituido com o mínimo de configuração ou atualização.

Uma boa metodologia para conseguir chegar neste ponto é a do _ Twelve-factor App ,_ ou Aplicação de Doze-fatores, e em sua seção de processos podemos verificar algumas das motivações para subir containers maneira stateless (não armazenam estado).

Entendendo o contexto de build

Quando executamos o comando docker image build , o diretório no qual apontamos (muitas das vezes como . para referir o diretório atual) é chamado de build context. Por padrão o Docker espera que o Dockerfile esteja localizado nesta pasta, mas também podemos especificar uma nova localização através da flag -f. Independentemente de onde o Dockerfile esteja, todo o conteúdo dos diretórios recursivamente e arquivos é enviado para o Docker daemon como build context.

Por isto não devemos, por exemplo, criar um Dockerfile diretamente em nossa home  ~/Dockerfile , uma vez que todo o conteúdo, inclusive o cache de navegadores web e todas aplicações ~/.cache será enviado para o Docker daemon, muitas das vezes falhando a build ou até mesmo fazendo com que ela demore muito tempo.

A partir de agora tilizaremos nossa máquina docker01 criada no post Docker-101. Estou assumindo que você já subiu a máquina e conectou na mesma via ssh . Caso você não possua a máquina pode voltar no post do blog para cria-la ou fazer na sua máquina atual com o Docker instalado.

Aqui daremos dois exemplos, um com a criação de uma imagem com o Dockerfile no mesmo diretório do contexto, e outro em diretórios diferentes.

Primeiramente vamos criar um diretório para  guardar nosso dockerfile e criar um arquivo com um conteúdo estático

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$ mkdir -p /vagrant/dockerfiles/exemplo1
$ cd /vagrant/dockerfiles/exemplo1
$ echo "Dockerfile Melhores Práticas" > blog

Vamos também criar nosso Dockerfile para manusear o arquivo e criar a imagem

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$ vim Dockerfile

FROM busybox
COPY blog /
RUN cat /blog

$ docker image build -t exemplo:v1 . 
$ docker image build -t exemplo:v1 . 

Agora vamos criar novos diretórios e mover o arquivo blog para um diretório diferente do dockerfile para construir uma segunda imagem.

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$ mkdir -p dockerfiles context
$ mv Dockerfile dockerfiles
$ mv blog context
$ docker image build --no-cache -t exemplo:v2 -f dockerfiles/Dockerfile context
$ docker image build --no-cache -t exemplo:v2 -f dockerfiles/Dockerfile context

As duas imagens tem o mesmo tamanho e o mesmo conteúdo, porém note que as imagens tem o ID diferente porque criamos a imagem sem utilizar o cache --no-cache, ou seja, criamos uma imagem totalmente nova.

$ docker image ls 

Caso sejam incluidos arquivos que não são necesssários para a construção da imagem o build context se tornará maior e consequentemente uma imagem maior. Isso pode aumentar o tempo de construção, envio e download da imagem e do container runtime. Para ver o tamanho do build context basta verificar a mensagem exibida quando executar o build do seu Dockerfile.

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Sending build context to Docker daemon 318.6MB

Para fins de teste vamos copiar todo o conteúdo do diretório /var/log para o context e construir a imagem.

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$ sudo cp -r /var/log/ /vagrant/dockerfiles/exemplo1/context/
$ docker image build --no-cache -t exemplo:v3 -f dockerfiles/Dockerfile context
$ docker image build --no-cache -t exemplo:v3 -f dockerfiles/Dockerfile context

Veja que o context que anteriormente era de apenas 2.6KB desta vez foi de 43MB, o que resulta em um tempo de build maior porém sua imagem continua do mesmo tamanho das outras já que o arquivo foi enviado para o context e não foi utilizado.

$ docker image ls

Tratando de poucos MB o tempo de construção pode não ser muito expressivo, porém imagine em uma grande aplicação com diversos arquivos. Utilizando o comando time fiz a medição no caso de 2.6KB que gerou a build em 0m0.910s contra 0m1.368s do arquivo de 43MB. esse tempo pode ser superior caso a imagem execute diversos comandos em diversas camadas.

Excluindo arquivos do build

Para excluir arquivos que não são relevantes a build, pdemos criar um arquivo .dockerignore contendo os padrões de exclusão similares aos do .gitignore possibilitando que ignoremos arquivos no build sem ter que modificar nosso repositório.

Para a referência do Docker Ignore veja a Documentação Oficial

Vamos criar agora um arquivo .dockerignore para que o diretório log não seja enviado para a build.

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$ vim context/.dockerignore

# Comentario: Ignorando arquivos do diretorio log
log

$ docker image build --no-cache -t exemplo:v4 -f dockerfiles/Dockerfile context

Veja que o diretório log foi ignorado, uma vez que o build context ficou em 2.6kB (agora um pouco maior que a primeira por possuir o arquivo .dockerignore) ao invés dos 43MB anteriores.

$ docker image build --no-cache -t exemplo:v4 -f dockerfiles/Dockerfile context

Melhores práticas parte 1

Na parte 1 das melhores práticas é preciso fazer uma menção ao Tibor Vass que fez estas explicações no blog do Docker. Uma vez que o conteúdo base é do mesmo e eu estarei apenas adaptando o post e fazendo minhas modificações. Caso queira ver o post do Tibor o link é este aqui.

Vamos criar um diretório para o exemplo a seguir para guardar nosso Dockerfile e fazer o download de uma aplicação exemplo em java que conta o numero de caracteres bem de um texto.

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$ mkdir -p /vagrant/dockerfiles/parte1/app
$ cd /vagrant/dockerfiles/parte1
$ git clone [email protected]:caiodelgadonew/blog-java-app.git app

Dica #1: A ordem importa para o cache

A ordem dos passos de build é importante, se o cache de um primeiro passo é invalidado pela modificação de arquivos ou linhas do Dockerfile, os arquivos subsequentes do build quebrarão. Sempre faça a ordenação dos passos do que sofrerá menos mudanças para o que sofrerá mais mudança.

Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM debian:9
RUN apt-get update
RUN apt-get install -y openjdk-8-jdk wget ssh vim
COPY app /app
ENTRYPOINT ["java", "-jar", "/app/target/app.jar"]


$ docker image build --no-cache -t parte1:v1 .

Dica #2:  COPY mais específico para limitar a quebra de cache

Só copie o necessário. Se possível evite o COPY. Quando copiamos arquivos para nossa imagem, tenha certeza que você está sendo bem específico sob o que quer copiar, qualquer mudança no arquivo copiado quebrará o cache. Copiaremos então apenas a aplicação para a imagem, desta maneira as mudanças nos arquivos não afetarão o cache.

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$ vim Dockerfile

FROM debian:9
RUN apt-get update
RUN apt-get install -y openjdk-8-jdk wget ssh vim
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]

$ docker image build --no-cache -t parte1:v2 .

Dica #3: Identifique as instruções que podem ser agrupadas

Cada instrução RUN cria uma unidade de cache e uma nova camada de imagem, agrupar todos os comandos RUN em uma única instrução pode melhorar o desempenho e diminuir a quantidade de camadas uma vez que eles se tornarão uma unidade única cacheavel.

Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM debian:9
RUN apt-get update \
        && apt-get install -y \
           openjdk-8-jdk wget \
           ssh vim   
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]


$ docker image build --no-cache -t parte1:v3 .

Dica #4: Remova as dependências desnecessárias

Remover as dependencias desnecessárias e não instalar pacotes de debug é uma boa prática, como por exemplo trocar o jdk (Java Development Kit) pelo jre (Java Runtime Environment) que é um pacote relativamente menor e contem apenas o necessário para execução. Você pode instalar as ferramentas de debug posteriormente caso necessite. O instalador de pacotes apt possui uma flag --no-install-recommends que garante que dependencias que não são necessárias não sejam instaladas. Caso precise, adicione elas explicitamente.

Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM debian:9
RUN apt-get update \
        && apt-get install -y --no-install-recommends \
           openjdk-8-jre 
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]

$ docker image build --no-cache -t parte1:v4 .

Com a Dica #4 podemos notar uma diminuição consideravel no tamanho de nossa imagem.

$ docker image ls

Dica #5: Remover o cache do gerenciador de pacotes

O gerenciador de pacotes mantem seu próprio cache, o  apt por exemplo guarda seu cache no diretório /var/lib/apt/lists e /var/cache/apt/. Uma das maneiras de lidar com este problema é remover o cache na mesma instrução que o pacote foi instalado. Remover este cache em outra instrução não irá diminuir o tamanho da imagem.

Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM debian:9
RUN apt-get update \
        && apt-get install -y --no-install-recommends \
           openjdk-8-jre \
        && rm -rf /var/lib/apt/lists \
        && rm -rf /var/cache/apt
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]

$ docker image build --no-cache -t parte1:v5 .

Agora com a Dica #5 nossa imagem ficou relativamente menor.

$ docker image ls

Dica #6: Utilize imagens oficiais quando possível

Imagens oficiais podem ajudar muito e reduzir bastante o tempo preparando a imagem, isto porque os passos de instalação já vem prontos e normalmente com as melhores praticas aplicadas, isto também fará você ganhar tempo caso tenha multiplos projetos, eles compartilham as mesmas camadas e utilizam a mesma imagem base.

Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM openjdk
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]

$ docker image build --no-cache -t parte1:v6 .

Dica #7:  Utilize Tags mais específicas

Nunca utilize a tag latest. Ela pode receber alguma atualização e em um momento de update sua aplicação pode quebrar, dependendo de quanto tempo passou do seu ultimo build. Ao invés disso, utilize tags mais específicas.

Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM openjdk:8
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]

$ docker image build --no-cache -t parte1:v7 .

Dica #8: Procure por flavors mínimos

Existem diversos flavors linux que fazem com que nossa imagem se torne cada vez menor, um bom exemplo são as imagens slim e alpine as quais são as menores encontradas. A imagem slim é baseada no Debian, enquanto a alpine é baseada em uma distribuição linux muito menor chamada Alpine. A diferença básica entre elas é que o debian utiliza a biblioteca GNU libc enquanto o alpine utiliza musl lbc, que apesar de muito menor, pode ter problemas de compatibilidade.

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REPOSITORY TAG SIZE
openjdk 8 510MB
openjdk 8-jre 265MB
openjdk 8-jre-slim 184MB
openjdk 8-jre-alpine	84.9MB
Dockerfile
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$ vim Dockerfile

FROM openjdk:8-jre-alpine
COPY app/target/app.jar /app/app.jar
COPY app/samples /samples
CMD ["java", "-jar", "/app/app.jar"]

$ docker image build --no-cache -t parte1:v8 .

Agora temos uma diminuição enorme em nossa imagem pois estamos utilizando uma imagem base bem menor.

$ docker image ls

Melhores práticas parte 2

Agora na parte 2 iremos falar sobre multi-stage builds, que é um recurso muito poderoso que apareceu a partir do docker 17.05. Multistage builds são uteis para quem quer otimizar Dockerfiles enquanto mantém eles fáceis de ler e manter.

Antes do Multi-stage build

O maior desafio das imagens é de fato manter as imagens pequenas, vimos nos exemplos anteriores que conseguimos, ao utilizar algumas das melhores práticas, diminuir bastante o tamanho da imagem. Utilizando imagens slim ou alpine resolvem boa parte dos nossos problemas mas quando precisamos resolver algo mais  complexo podemos utilizar elas somadas ao Multistage build.

Multi-stage build

O multi-stage build faz com que possamos utilizar diversas instruções FROM em um Dockerfile, e cada instrução pode utilizar uma imagem diferente, fazemos isto por exemplo para subir uma imagem, dentro desta imagem instalar os pacotes e coletar apenas os arquivos necessários diretamente para a imagem subsequente. Com isso temos uma imagem muito mais enxuta e otimizada.

Por exemplo vamos criar esta imagem em GO pelo processo normal:

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$ git clone https://github.com/alexellis/href-counter.git /vagrant/dockerfiles/parte2
$ cd /vagrant/dockerfile/parte2
$ rm Docker*
$ vim Dockerfile

FROM golang:1.7.3
WORKDIR /go/src/github.com/alexellis/href-counter/
RUN go get -d -v golang.org/x/net/html  
COPY app.go .
RUN CGO_ENABLED=0 GOOS=linux go build -a -installsuffix cgo -o app .

$ docker image build --no-cache -t parte2:v1 .

Esta imagem ficou com o tamanho de 692MB, porém o que precisamos nela é apenas o diretório /go/src/github.com/alexellis/href-counter/app, podemos então utilizar o multistage build para recolher estes arquivos, chamando a primeira imagem de builder através do parâmetro AS <nome> e depois invocar a imagem em um segundo estágio através do parâmetro --from=<nome>.

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$ vim Dockerfile

FROM golang:1.7.3 AS builder
WORKDIR /go/src/github.com/alexellis/href-counter/
RUN go get -d -v golang.org/x/net/html
COPY app.go .
RUN CGO_ENABLED=0 GOOS=linux go build -a -installsuffix cgo -o app .

FROM alpine:latest
RUN apk --no-cache add ca-certificates
WORKDIR /root/
COPY --from=builder /go/src/github.com/alexellis/href-counter/app .
CMD ["./app"]



$ docker image build --no-cache -t parte2:v2 .

Agora tivemos uma “pequena” redução de 692MB para 11.8MB.

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REPOSITORY TAG SIZE
parte2 v2 11.8MB
parte2 v1 692MB
Multistage x Normal build

Outra coisa interessante é que ao invés de utilizar uma imagem completa podemos puxar um arquivo de uma imagem já criada anteriormente através da flag --from=<image>:<tag>, vamos fazer a cópia de um arquivo da imagem da parte1 para a imagem da parte 2, para isto criaremos um diretório chamado parte 3.

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$ cd /vagrant/dockerfiles
$ cp -r parte2 parte3
$ cd parte3
$ vim Dockerfile 

FROM alpine:latest
WORKDIR /root/
COPY --from=parte1:v8 /samples/1.txt .
CMD ["cat", "1.txt"]

$ docker image build --no-cache -t parte3:v1 .
Dockerfile

Podemos agora executar nosso container para verificar se o arquivo 1.txt é de fato o  arquivo extraido da imagem parte1:v8 .

$ docker container run --rm -it parte3:v1

É sempre bom tentar diminuir as imagens de docker e seguir as melhores práticas, isso faz com que nosso tempo de deploy ou scale da aplicação seja menor, bem como a necessidade de um armazenamento maior e diversos outros fatores.

Este post faz parte de uma série de posts sobre Docker.

O código deste post encontra-se no repositório: https://github.com/caiodelgadonew/blog-dockerfile-melhores-praticas

Ficamos por aqui com esse post e nos vemos em uma próxima!

This post is licensed under CC BY 4.0 by the author.